Por Guilherme Bara
A lei 8213, criada em 1991, é velha conhecida dos departamentos de recursos humanos das empresas, já que interfere em diversos pontos da relação empresa / funcionário. O artigo que trata da criação de reservas para os trabalhadores com deficiência nas empresas que tem 100 funcionários ou mais foi deixado de lado por quase 10 anos até que se iniciou uma ação efetiva de fiscalização.
A partir daí começou uma revolução no processo de inclusão das pessoas com deficiência.
Enfrentando a resistência da maior parte das empresas que alegavam que a criação das cotas seria discriminatória e que as corporações já tinham este olhar social, a lei de cotas conseguiu, facilmente, desconstruir esta retórica com números que não deixam dúvidas.
No Estado de São Paulo havia 601 trabalhadores com deficiência em 2001, início da fase de fiscalização. Onze anos depois o número saltou para algo em torno de 100 mil pessoas.
Mesmo com mais de 50% das empresas ainda não cumprindo a totalidade de suas cotas, presenciamos uma drástica mudança no paradigma da inclusão. A inclusão econômica das pessoas com deficiência é a grande catalizadora da inclusão social como um todo.
Conforme as pessoas com deficiência conseguem um emprego, elas passam a exercer uma pressão pela adaptação de serviços como um transporte público adaptado, uma calçada acessível, uma comunicação urbana que permita que todos tenham acesso à informação.
Os benefícios não param por aí.
O processo de inclusão laboral das pessoas com deficiência trouxe um significativo aumento de renda para o segmento o que tira da invisibilidade milhões de novos consumidores que hoje já recebem atenção especial de diversas empresas.
Seguros de carros customizados, atendimentos telefônicos inclusivos e etiquetas em Braille são só alguns exemplos deste olhar do mercado para este novo consumidor. Estes benefícios já seriam suficientes para justificar a criação desta lei, mas ela traz um ganho ainda mais impactante para o processo de inclusão do segmento.
Com a entrada de milhares de pessoas com deficiência no mercado de trabalho temos o maior benefício que é o aumento do convívio entre as pessoas com e sem deficiência. Este convívio acontece no metro, nos ônibus, nas calçadas e sobre tudo no ambiente de trabalho que é onde as pessoas passam a maior parte do tempo em contato direto com os colegas.
Diversas dúvidas são esclarecidas, tabus são quebrados, pois a informação chega deuma forma mais natural e efetiva.
Com a entrada das pessoas com deficiência no mercado de trabalho o tema entrou na pauta das empresas, mas sobre tudo na pauta social.
Hoje é comum encontrarmos reportagens sobre o tema e em alguns casos se dá à pessoa com deficiência o posto há pouco imaginável de protagonismo.
Com o convívio diversos preconceitos são eliminados e passamos a humanizar mais as relações. O desafio das empresas não é simples, já que falamos de incluir uma parcela da população que, historicamente, foi socialmente marginalizada, mas os benefícios desta ação afirmativa devem se sobrepor a quaisquer tipos de resistências.