Por Mara Gabrilli
Janeiro, praia de Ilha Bela, litoral norte de São Paulo. O Sol queima a pele e se exibe em um céu radiante, tornando o mar ainda mais convidativo para um mergulho. Era este o cenário, em 2002, quando Danilo Oliveira Freire, na época com 16 anos, foi passar o ano novo na casa de uma tia. No passeio pela praia, resolveu tomar um banho de mar para refrescar-se. A diversão terminou em uma fração de segundos, quando furou a onda e foi de cabeça num banco de areia. O jovem perdeu os movimentos na hora e ficou boiando por cerca de quatro minutos até que alguém percebesse o que havia ocorrido. Do mar para o hospital, Danilo ficou três meses em coma.
O choque fez com que o seu pescoço fosse dobrado enquanto o resto de seu corpo ainda permanecesse em movimento. Isto causou uma fratura em duas de suas vértebras, deixando-o tetraplégico incompleto – ele consegue fazer alguns movimentos com dificuldade –, mas depende de uma cadeira de rodas para andar.
História parecida, mas longe das praias brasileiras, ocorreu com Cid Torquato, que se encantou com as águas do Mar Adriático em uma viagem a trabalho para a Croácia. Na última noite em que passara ali, resolveu dar um mergulho de cabeça do alto de um pier. A maré estava baixa e, como 66% das vítimas desse tipo de acidente, Cid lesou a medula na altura da quinta vértebra. Resultado: tetraplegia.
Para se ter uma ideia, a cada semana, cerca de dez pessoas ficam tetraplégicas ao bater a cabeça em mergulhos. A incidência é de 60,9% dos casos. As vítimas são na maioria adolescentes e adultos do sexo masculino. Em 44% dos casos, os acidentes ocorrem em rios.
Tão importante quanto desenvolver políticas públicas para a população com deficiência é investir em medidas para prevenir este tipo de acidente, responsável por lesões gravíssimas. Diferente de outras deficiências, a exemplo das geradas em acidentes de carro, a prevenção do mergulho mal calculado pode evitar que 100% dos casos de deficiência física. Para isso, basta que a informação chegue de maneira eficiente à população e, principalmente, entre os jovens, os maiores que devem ser os maiores alvos da campanha.
Enquanto vereadora de São Paulo, protocolei um projeto de lei que prevê uma semana de campanha alertando a população dos riscos de mergulhar de cabeça no mar, em rios, lagos ou piscinas. Hoje, continuo a espalhar a ideia onde quer que eu vá. Sei que a informação é a melhor maneira de conscientizar as pessoas para os cuidados que devem tomar nesta época de muito contato com a água. Podemos evitar que mais pessoas jovens adquiram deficiências físicas, muitas vezes, severas, divulgando a informação de maneira simples e direta em escolas e clubes.
Cuidados como não mergulhar primeiro antes de entrar na água – nem praticá-lo em água turva, verificar a profundidade do local, não empurrar as pessoas na água e sempre evitar o consumo excessivo de álcool são medidas simples que fazem toda a diferença. A distância entre uma vida com e sem deficiência pode ser mais curta que você imagina. Quando menos se espera você já pode ter mergulhado em outra realidade – sem caminho de volta.
Trilhar a superação é glorioso, mas a prevenção é e sempre será o melhor dos caminhos.