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Por Mara Gabrilli
Ainda jovem, carregava um pensamento muito comum aos brasileiros: o de que
os políticos são todos iguais. Talvez naquela época eu ainda não refletisse
muito sobre esse assunto – e alguns outros, mas ao cabo, acolhia esse
sentimento como boa parte da população. Um dia, sofri um acidente de carro,
quebrei o pescoço e fui obrigada a ser diferente. Novo corpo, nova forma de
me locomover, novo olhar para o mundo – minha perspectiva ótica não é igual,
sentada na cadeira, meu ângulo de visão é outro. Não posso dizer que muita
transformação em mim é ocasionada pela tetraplegia. Mas, posso afirmar que
ser obrigada a tomar uma nova vida pelas rédeas me fez encarar obstáculos de
maneira bem diferente.
A cadeira não foi um deles, por exemplo, quando anos depois, ao ser bastante
instigada pela minha mãe, saí de casa e fui ao Ministério Público de Santo
André denunciar o esquema de corrupção na cidade que envolvia empresários de
ônibus (meu pai era um deles), dos quais se extorquia uma “caixinha” para o
dito fundo de campanha do PT. História bem conhecida pelos diários impressos
e cujo ápice se deu com a morte do prefeito Celso Daniel. Antes ainda do
assassinato, bati na porta do apartamento do então presidente Lula para
fazer a mesma denúncia. Cafezinhos e promessas na mesa, mas de concreto nada
foi feito.
Ainda assim não perdi a esperança na política, achei que podia ser
diferente: candidatei-me a vereadora e obtive votos que me garantiram a suplência, fui a primeira Secretária da Pessoa com Deficiência do País, elegi-me, então, vereadora e agora sou Deputada federal. No início deste ano, quando cheguei a Brasília, aquele
sentimento de jovem me traiu novamente. Contudo, felizmente, para minha própria surpresa, a desagradável sensação do “tudo é assim mesmo” não faz parte do meu dia a dia como parlamentar.
Ao adentrar as entranhas do Congresso Nacional, me surpreendi com uma realidade diferente. E eu, uma apaixonada pela diversidade humana, deflagrei em Brasília mais um sinal de que, realmente, não somos todos iguais. Deparei-me com fatos distantes daqueles que alimentam a mídia nacional todos os dias e deixam os brasileiros sem
esperança de viver em um país menos enlameado. Falo de uma política do bem,
feita por alguns parlamentares realmente dispostos a trabalhar.
Sou contra a deterioração das estruturas democráticas. Alguns maus políticos
não podem acabar com a seriedade da democracia brasileira. Esse é meu
sentimento e foi assim desde que entrei na política. Surpreendi-me com
Brasília, mas de maneira muito positiva. A começar pela seriedade e
competência da estrutura da Casa, seus funcionários e toda a gestão interna.
No meu caso, acessibilizaram o plenário para que eu e outros parlamentares
cadeirantes pudessem utilizar o espaço, como qualquer outro membro da Casa.
Ali, fiz meu primeiro discurso. E o fiz com muita honra, em homenagem aos
meus eleitores e a todos aqueles que tornaram aquele fato possível.
Encontrei parlamentares dedicados, sensíveis e empenhados para representar a
população que lhe conferiu seu voto. Ali presencio a luta de outros
políticos para tornar leis projetos que realmente melhorem a vida da
população.
E se de um lado, ainda vemos representantes viciados no Poder, dopados e
cegos dentro de redes sujas de articulação e interesse, do outro, podemos, sim, vislumbrar o trabalho de gente que carrega a responsabilidade de
representar uma nação. Momentos assim funcionam como um lampejo e servem
para enxergar a diversidade onde se menos espera.
Mas, tenho de admitir que aquele sentimento de impunidade, de quando ainda era só uma menina, continua a me perseguir,
ora como um sonho ruim, ora como uma guerra que tento ganhar diariamente. A corrupção no Brasil é lugar comum para os políticos, não podemos deixar que o seja também para a sociedade. Não podemos deixar que a impunidade manche nossas instituições. Por isso, é vital que não matemos essa pequena chama que ainda acalenta os corações de quem acredita nas pessoas.
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Mara, obrigada pelo artigo, ele contribuiu um pouco para reestabelecer a minha abalada fé na política brasileira. Além disso é sempre bom ler seus textos.
Não pude evitar uma ponta de amargura ao me peguntar se o fato de a corrupção ser um lugar comum na política não é uma consquência de já o ser também na sociedade.
Por outro lado, acredito na bondade interior das pessoas, e como pólíticos também são só pessoas, fica aí a esperança!
Melissa, eu concordo com o seu pensamento que a corrupção da política começa na corrupção da sociedade.
Mara, Melissa e Guilherme, é por aí mesmo.
Mas pra mim, o problema é que somos tão bombardeados por maus exemplos, que não conseguimos identificar os bons. Quem eles são, o que fizeram, vão concorrer nas próximas eleições? Sei que tem diversos sites onde podemos buscar esse tipo de informação, mas porque não temos capas de jornais e revistas só com bons exemplos?
Na terça passada tive um bate-papo com o Fábio Feldmann, por exemplo, e acho que é um desses bons, mas que infelizmente deixou a poliítica…
Leo, felizmente o Fabio Feldmann abandona a política mas depois volta. Recentemente foi secretário do meio ambiente no GOverno do Estado. Abraço!
Melissa, parabéns pelo artigo.
Infelizmente acredito que será apenas dessa forma que nós da sociedade conseguimos obter a informação que ainda existem políticos sérios, honestos e principalmente, que buscam desenvolver e melhorar cada vez mais a vida da população brasileira.
Acredito seriamente que precisaremos divulgar cada vez mais oq esses “bons” políticos fazem pelo nosso país e pela sociedade, para quem sabe assim, alimentarmos cada vez mais e ainda mais positivamente a esperança de todos nós brasileiros.
Fábio, a nossa ideia é sim criticar coisas absurdas que acontecem na política, mas também é divulgar as boas iniciativas e os bons políticos. Abraço e obrigado pela participação!
Perdão pois errei o nome correto da pessoa ao parabenizar pelo artigo.
Parabéns Mara Gabrilli pelo artigo interessantíssimo que o descreveu.
Fiquei bem mais feliz ao saber que ainda existem políticos “bons” nesse nível descrito por vc.
Espero que vc tb continue nesse caminho árduo e sofrido lutando pela sociedade brasileira, pois são exemplos como esse que nos tornam mais fortes e esperançosos em busca de um Brasil melhor.
Um gde abs e novamente desculpas pelo erro.
Desconfiei que havia se confundido. Abraço!
Tadinha da mara, foi denunciar o esquema de estorção justo para o Lula. Mal sabia ela que ele era o principal mandante e beneficiário da tramóia!
Boa Welington. Mandou muito bem…
Temos que estimular a participacao da sociedade, especialmente o jovem. Precisamos demonstrar nossa indignacao nao so em sessoes privadas, mas publicamente. Pessoas que queiram e pocam contribuir policamente para extirpar do meio os corruptos e os eternos que tem a politica como uma profissao em beneficio proprio. Por isso, ja dizia o Montoro, pai e filho, ” se os homens de bem nao derem a cara para bater, estaremos entregando o pais para os picaretas ” Parabens Mara por participar e estar dando sua contribuicao para a “limpeza” deste pais. Parabens Guilherme pelo blog e por estimular manifestacoes entaladas na garganta que serao motivo de reflexao para quem tiver uma pontinha de vontade para mudar este Brasil
Ola BUona, sua participação aqui dá mais peso e credibilidade a este espaço. O BUona, junto com o Ricardo Montoro, Fizeram um trabalho frente à secretaria de participação e parcerias de São Paulo que duplicou o número de telecentros e aumentou significativamente o número de entidades beneficiadas pelo Funcad.
Parabéns Mara! E obrigada por reatar meu fio de esperança nesse país!
A impunidade só permanece em um ambiente favorável a ela. Quando nos tornamos omissos, deixamos que a corrupção se propague como uma infecção generalizada. Precisamos entender é que omissão é cumplicidade ao crime. Certa está você de batalhar dia após dia para que a honestidade prevaleça.
É bom saber, de quem está lá dentro, que há pessoas dispostas a pensar no bem maior, de olhar o quadro geral e saber que faz parte de um seleto grupo que deveria representar uma nação!
Gui, obrigada por nos proporcionar discussões importantes com pessoas de alto nível!
Raquel, como a Mara disse, existem sim políticos que estão a serviço da população. Na minha passagem pelo governo conheci muita gente boa e muitos projetos interessantes que nào são conhecidos de boa parte da população.
Cara Mara Gabrile, caros todos.
Sou cego. Apesar de que já deveria ter me acostumado, não consigo ficar tranquilo e satisfeito com frases como essa:
“E se de um lado, ainda vemos representantes viciados no Poder, dopados e cegos dentro de redes sujas de articulação e interesse, do outro, podemos, sim, vislumbrar o trabalho de gente que carrega a responsabilidade de representar uma nação.”
O que quero dizer é:
“E se de um lado, ainda vemos representantes viciados no Poder, dopados e tetraplégicos dentro de redes sujas de articulação e interesse, do outro, podemos, sim, vislumbrar o trabalho de gente que carrega a responsabilidade de
representar uma nação.”
O cego simbólico, querendo ou não, está utilizando a minha deficiência para comunicar algo muito pejorativo, negativo, que não tem nada a ver com a minha deficiência. Utilizar a deficiência de pessoas com deficiência como adjetivos não é nada confortável para quem tem essas deficiências, embora o Guilherme Bara não ligue para isso, isso dói na maioria de nós, pessoas com deficiência, por colocarnos e à nossa deficiência, em um plano baixo e negativo diante a sociedade.
Penso que seja melhor, Mara, que pense melhor ao adjetivar corruptos, sujos, viciados e coisa que o valha, não como cegos, porque nós cegos podemos interagir de forma sadia, honesta, inteligente com a sociedade e, assim, não correspondemos ao conceito de cegos citado por você que, justamente, tenta nos apoiar na Assembléia.
Atenciosamente,
Marco Antonio de Queiroz – MAQ, cego, honesto, limpo e muita coisa boa… além do que existe de humano e igual.
Ola Marco Antonio, apenas para dizer que eu, assim como você, ligo sim para isto, porém os colaboradores tem autonomia sobre seus textos.. Obrigado!
MAQ, fico feliz com seu comentário porque nos traz o desafio de estar sempre atentos e sempre comprometidos por tirar do caminho tudo que nos afasta uns dos outros. As palavras devem ser levadas a sério e o uso delas pode revelar nosso mundo, mas também pode construir outras realidades. Não é sem razão que a Dilma quer ser chamada de presidenta, que os palhaços e o povo de circo odeiam ver sua profissão associada ao que não é sério e assim por diante. Por uma linguagem mais inclusiva e respeitosa! Seu toque não foi apenas para a Mara, mas para todos nós. Obrigado!
Reinaldo, ótimo ter você aqui nos comentários! Amanhã publico artigo inédito do Reinaldo. Tenho certeza que ffará sucesso.