Por Mara Gabrilli
Imagine algum momento da sua vida em que não existisse sequer uma maneira para se comunicar. Já aconteceu isso com você? Por experiência própria posso lhe dizer o quão difícil é conviver com o silêncio forçado. Ao sofrer o acidente que resultou em minha tetraplegia fui obrigada a me comunicar somente com meus olhos, através de uma tabela com as letras do alfabeto. Não é por acaso que quando penso em informação, lembro de liberdade.
Estar informada, mesmo sem mexer um músculo abaixo do pescoço, faz-me sentir liberta de amarras que tornam a vida cheia de obstáculos, como o preconceito, por exemplo, a pior das barreiras. Mesmo que intangível, ele atrapalha a vida das pessoas. E por um único motivo: tolhe do ser humano a capacidade de evoluir. Estando informada sinto-me livre para desenvolver meu trabalho, saber o que ainda precisa ser feito, buscar pessoas, agregar conceitos e me livrar da miséria de ideias.
Infelizmente, ainda foge de grande parte da população informações básicas sobre os seus direitos e deveres de cidadão. No caso da pessoa com deficiência essa carência é latente. Embora a legislação brasileira preconize essas pessoas em diversas áreas, a informação não chega onde tem que chegar. À margem de políticas públicas que atendam suas necessidades, a população com deficiência para em um gargalo que nasce na educação e na saúde e depois atinge todas as áreas de políticas públicas, como o mercado de trabalho.
Vivemos em um mundo que a cada dia mostra que há maneiras independentes para produzir informação. Hoje, qualquer pessoa pode fazer gratuitamente um blog e expressar o que sente em um espaço seu; os políticos têm sites e outros canais onde mostram ao seu eleitor (agora também leitor) o que fazem (ou deixam de fazer); as redes sociais já são boom no mundo e conseguem ultrapassar barreiras territoriais, políticas e ideológicas. Mas, ainda sim, a população é carente de informação básica. E no caso do cidadão com deficiência, que se depara diariamente com falta de acessibilidade, inclusive, nos meios de comunicação, a falta de acesso fere sua liberdade de expressão, porque o impede até mesmo de sair de casa e reivindicar. E é aí que a informação e os direitos novamente se esbarram.
Em 2008, a Convenção da ONU sobre os direitos da pessoa com deficiência foi ratificada pelo Congresso Nacional. Isso significa que todos os seus artigos, inclusive aqueles que dizem respeito à acessibilidade nos meios de comunicação, devem ser cumpridos.
Para isso, a mídia deve trabalhar como disseminadora da cidadania, levando em consideração que a diversidade humana faz parte da sociedade. Neste sentido, a internet tem se mostrado uma ótima plataforma de expressão. Se chegou até aqui, deve saber que este mesmo texto que você lê agora é assinado por uma tetraplégica e produzido com muito respeito para ser publicado neste blog, que foi criado por um cego! Deficiência física e visual, juntas, derrubando barreiras da informação.
O conteúdo que você curte no ciberespaço pode ser aplicado a sua vida real, mas depende de você querer dividir o tema com outras pessoas. A informação quando bem utilizada pode ser transformadora e você, como agente desta transformação, também evolui. Curtiu isso?